| Fonte:razaoautomovel |
Lamborghini Countach Turbo: cinco pecados capitais em forma de automóvel. Mais potente que o Aventador, mais rápido que a maioria dos desportivos actuais, assim é este herege pecador.
Corria o ano de 1990 e as marcas de super-desportivos ainda estavam todas a «ressacar» das loucuras cometidas nos anos 80. Foi uma década transformada num festival de potência, pneus derretidos e excessos em todas as vertentes. Mas no meio daquele sentimento geral de «after party» havia um pequeno construtor com energia para pelo menos mais uma festa. Esse construtor era a Lamborghini.
No clube restrito dos construtores de super-desportivos, a Lamborghini encarna o papel de bon vivant, em contraste com a «very polite» Aston Martin, a pragmática Porsche ou a «femme fatale» Ferrari.
E como bon vivant que é, a Lamborghini preparou uma festa de arromba para comemorar a última versão do modelo Countach. Neste que seria o seu «último tango», o Countach apareceu no seu melhor: Chocante, potente, vistoso, altivo e orgulhoso. Um pecador por excelência. Falamos do Lamborghini Countach Turbo. A última e derradeira versão de um dos mais carismáticos automóveis de sempre.
Oficialmente apenas existem dois exemplares, uma versão em concept-car e outra em versão de produção. A única que existe e que aparece orgulhosamente provocante nas fotos que acompanham este artigo.
Apesar de ter sido nascido, criado e educado em terras próximas do Vaticano, o Countach é tudo menos católico. Arrisco-me a dizer que o Lamborghini Countach Turbo é a personificação automóvel de pelo menos cinco pecado capitais: ira, luxuria, gula, soberba e vaidade.
Ira e gula
Ira porque o seu motor transpira tensão, raiva e performance. Os anos passaram por ele mas as suas virtudes mantêm-se: o Countach Turbo continua o mesmo demónio do asfalto de sempre. Pronto para devorar qualquer estrada ou curva que se coloque diante dele, deixando-a invariavelmente diferente à sua passagem: As rectas ficam mais curtas e as curvas menos dobradas.
São 748 cavalos de potência desenvolvidos por um motor V12 de 4.8 litros de capacidade alimentados por dois enormes turbos Garrett T4. Exactamente 48cv a mais do que aqueles que desenvolve o mais recente Lamborghini, o Aventador. Um modelo que ao pé deste Countach turbo parece um «menino do coro».
A gula já adivinharam ao que se deve: aos consumos monstruosos deste motor! Uma unidade motriz que já no longínquo ano de 1990 impelia o Coutach, dos 0-100km/h em menos de 3,7seg. numa corrida que só terminava quando o ponteiro já ultrapassava os 360km/h. O preço a pagar por tanta perfomance vinha em forma de consumos que deviam medir-se em decalitro.
Mas há mais pormenores de «malvadez» no Countach Turbo. Esqueçam os botões do controlo de tração, o programa de estabilidade, a repartição de travagem ou a suspensão pilotada, porque não os vão encontrar. Esses «anjos da guarda» de redenção na estrada não poderiam salvaguardar um pecador como este, nem tão pouco o cúmplice que se sentar aos seus comandos. Para além do mais esses sistemas ainda não se aplicavam a carros deste calibre…
Mas em compensação, há um comando neste Countach que deve ter contacto directo com as profundezas da terra e que infelizmente não está presente nos modelos atuais. Um comando que despertava ou adormecia – a nosso belo prazer, um inferno de potência no motor que repousava na traseira deste Countach Turbo. Falo do «boost knob», um botão que aumentava ou diminuía a pressão do turbo (entre 0,7 e 1,5 bar) e consequentemente a potência. Sem dúvida muito «badass»!
Vaidade, luxuria e soberba
“Demasiada ambição pela perfeição do aspecto físico, beleza, para impressionar os outros” é a definição de vaidade, vale a pena dizer mais alguma coisa? É uma definição que encaixa na perfeição neste Lamborghini Countach Turbo, basta olhar para ele. É uma ode ao materialismo, à luxuria e à soberba! Quem não se sentiria vaidoso e acima de qualquer mortal a bordo deste bólide?
A corroborar a minha opinião, as fotos que acompanham este artigo foram ornamentadas por duas lindíssimas senhoras em trajes que nada ficam a dever ao provocante Lamborghini Countach Turbo.
Um super-desportivo único
Se me dessem a escolher um super-desportivo de sonho, era este que escolhia. Não era nem o seu contemporâneo Ferrari F40 nem o seu parente distante Lamborghini Aventador. Pode não ser – nem é… o mais eficaz, veloz e acutilante super-desportivo alguma vez construído. Mas é tudo aquilo que um super desportivo deve ser: intempestivo, vibrante, teimoso e muito vistoso.
Tenho a certeza que ele nunca iria curvar na medida do que eu queria, acelerar na medida do que eu pretendia nem travar no tempo que necessitaria. Mas tenho a certeza que é nesta relação amor/ódio que se encontra o terreno fértil para plantar e crescerem sentimentos impossíveis de nutrir pela maioria dos automóveis.
Agora riam-se à vontade deste vosso escriba, mas foi assim que me senti quando conduzi pequenos diabetres – comparado com este portento de maldade… – como o Citroen Ax GT ou o Fiat Uno Turbo I.E. Eles raramente faziam o que eu queria, mas era dessa teimosia que nascia o gosto por conduzi-los.
Mas voltando ao rei dos pecadores de Sant’Agata Bolognese, terra natal da Lamborghini. Reza a lenda que este automóvel está proibido de circular nas estradas do Vaticano, um herege como ele não tem lugar nas vias do santo pontífice. Não sabe ele o que perde e nós dificilmente ficaremos a saber. É pena, quem não gostaria de se perder por maus caminhos ao volante deste herege de quatro rodas? Mas temos sempre uma possibilidade: construir um exemplar na nossa cave…
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