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Basta recuar 10 ou 15 anos para ficarmos impressionados com a evolução extraordinária que a industria automóvel teve nos últimos anos. Os maus automóveis foram «extintos».
Normalmente estas minhas crónicas resultam das reflexões que faço a caminho do trabalho. São cerca de 30 minutos que divido irmãmente entre actividades como ouvir rádio, pensar no longo dia que tenho pela frente, conduzir (quando o transito permite…) e «viajar na maionese». Que é como quem diz, pensar nas coisas mais profundas ou absurdas (às vezes nas duas ao mesmo tempo…) enquanto não chego ao destino. E em Lisboa, às 8:00 da manhã perante um trânsito que teima em não avançar aquilo que mais faço é mesmo «viajar na maionese».
E na última viagem desta semana, rodeada de trânsito por todos os lados para não variar, observei com outros olhos as várias gerações de modelos da mesma marca e do mesmo segmento ao longo dos anos e a evolução é notável. Hoje não há carros maus. Foram extintos.
Podem dar as voltas que quiserem ao mercado automóvel, não vão encontrar nenhum automóvel objectivamente mau. Vão encontrar carros melhores do que os outros, é verdade, mas não vão encontrar maus automóveis.
Há quinze anos atrás encontrávamos carros maus. Com problemas de fiabilidade, dinâmica horrenda e uma qualidade de construção hedionda. Hoje felizmente isso não acontece. A fiabilidade agora vem de série em qualquer marca, bem como a segurança activa e passiva. Até o mais simples Dacia Sandero faz corar de vergonha muitos carros de segmento superior há uma dúzia de anos atrás.
O conforto, o ar-condicionado, as ajudas electrónicas, uma potência convincente e um design atractivo são tudo itens que se encontram democratizados. Já não pagamos mais por isso. E não deixa de ser engraçado que tenha sido a economia de mercado e o mal amado capitalismo a providenciar-nos estes «direitos adquiridos».
No fundo, as diferenças mais substanciais entre os modelos de diferentes segmentos esbateram. A disparidade de qualidade de contrução, conforto e equipamento entre o básico segmento B e o luxuoso segmento E já não é tão grande como era antigamente. A base da pirâmide tem evoluído a passos largos enquanto no topo da mesma, a margem de progresso tem sido relativamente mais difícil, cara e demorada.
Em contrapartida, hoje já ninguém espera que o seu carro dure para sempre, até porque não vai durar. Hoje o paradigma é outro: que o carro dure sem problemas nem chatices o seu ciclo de vida útil. Muito mais curto do que no passado, porque neste mundo de tendências e novidades constantes, onde tudo começa por «i», a desactualização é precoce. E o interesse no automóvel também se perde com facilidade. Com excepção para alguns modelos muito «especiais».
Tanto assim é que muitos especialistas já decretaram inclusive o «fim da era dos clássico». Uma corrente de pensamento que defende que nenhum dos carros actuais – falo de modelos convencionais claro… – alguma vez logrará atingir o estatuto de modelo clássico. Faz sentido. Hoje os automóveis são na sua maioria «electrodomésticos», que não lavam loiça nem roupa (mas alguns já aspiram…), extemporâneos na sua essência e sem carácter que lhes valha serem recordados.
Esta é a parte má da evolução de alguns sectores na industria automóvel, principalmente para aficionados da «máquina» como nós. A parte boa é que hoje todos os automóveis sem excepção cumprem « mínimos olímpicos» de qualidade, segurança e performance que nos deixam a todos com um sorriso na cara. Durante algum tempo claro…
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